Lembro-me do dia em que ouvi falar pela primeira vez em misofonia. Foi há uns anos atrás, vivia sozinha no Seixal e tinha entrado no meu opel corsa, bem cedo, para ir para o emprego. Liguei o rádio e o rapaz da rádio, talvez da megahits, falou sobre a irritação de ouvir determinados sons repetitivos e que se denominava misofonia. Identifiquei-me de imediato com a situação e senti um entusiasmo enorme por saber que era algo que existia.

Sei que cresci, provavelmente a partir da adolescência, com grandes irritações às refeições em casa, por causa dos barulhos a mastigar. Lembro-me que cheguei a refilar, pelo menos duas vezes, o quanto isso me chateava mas sem poder fazer mais nada ou que me pudessem ajudar, deixei de falar nisso e ficava só irritada mas tentando não revelar.

Nunca pensei sequer que podia pesquisar sobre isto, ou não sabia sobre o que pesquisar propriamente. Naquela idade na adolescência também não devia andar na internet e quando comecei não andava com isso na cabeça (não era grave, portanto).

Mais recentemente, há cerca de, talvez 3 anos, lembrei-me de pesquisar nos grupos do facebook e encontrei um grupo e foi mais um alívio ver que me relacionava com tanta gente.

Indico aqui também que nunca fui ao médico por causa disto. Não considero que seja muito grave, felizmente. Também não tomo qualquer tipo de medicação para isto, nem o deviam fazer sem a prescrição de um médico.

Misofonia é uma desordem neurológica em que estímulos auditivos, e às vezes, visuais são confundidos dentro do sistema nervoso central. Pressupõe-se que a causa de misofonia não encontra-se nos ouvidos, mas na disfunção do sistema central auditivo do cérebro. No entanto, muito sobre misofonia e suas causas ainda são considerados um mistério.

hear-it.org

Associa-se que a misofonia desencadeia o comportamento fight or flight response, que é uma reação fisiológica automática a um evento que é entendido como stressante ou assustador.

É algo que, em adulta, quando acontece, sinto que devo sair do sitio quando me começo a stressar com determinados sons, ou ajuda colocar os auscultadores e ouvir música. Não me acontece sempre e não acontece com toda a gente com que estou e fazem barulhos.

Também notei que reparo em muitos mais sons, normalmente até sons mais longe que quando comento com alguém, não é algo que as outras pessoas estejam a tomar atenção e só ouvem depois de eu referir. Parece que tenho super audição mas pode ser uma questão de me focar nesses sons que outras pessoas nem reparam. E isto sons que não me estão a chatear, somente lhes tomo atenção.

Há uns anos, também me aconteceu algo muito interessante. Houve situações que senti o oposto de me irritar, senti uma sensação zen, como se estivesse a ouvir uma música relaxante. Muito estranho mas muito melhor do que me irritar ou stressar.

Recentemente dei de caras com uns tampões de ouvido, chamados loop earplugs e não achei caro, decidi experimentar (e este não é um artigo pago para publicidade).

São uns tampões de ouvidos que abafam uma determinada frequência. Têm dois tipos, um para cada frequência, ou seja, consigo ouvir na mesma as pessoas a falarem, oiço a televisão, a campainha, mas não oiço tanto, como mastigação ou algum som repetitivo mais baixo.

Tenho utilizado regularmente e tenho gostado imenso. Levei-os ao cinema, o barulho das pipocas antes de começar o filme, é algo que sempre me incomodou muito, fico muito irritadiça, não os achei eficaz a 100% quando não há música nenhuma antes do filme ou a publicidade começarem, mas já ajudam, melhor do que não ter nada. Outros sons achei muito mais eficaz, é um alívio.

Vêm com uma caixinha pequena que meto no bolso ou na mala e saco deles quando preciso. Pelos comentários que vi, não aconselham colocar como porta-chaves que já houve malta que os perdeu por se abrir facilmente. A mim só enfiando a unha, pois ao fechar faz clique, não me parece fácil de abrir mas nunca se sabe.

Portanto, comecei 2022 logo com uma melhoria! Mas na realidade comecei com duas melhorias, que espero abordar no próximo artigo.